terça-feira, 22 de março de 2022

Comunidade denuncia isolamento e abandono em área de projeto da Vale no Pará: 'não existe diálogo'

 

Comunidade denuncia isolamento e abandono em área de projeto da Vale no Pará: 'não existe diálogo' - Crédito: DivulgaçãoCrédito: Divulgação

“Aqui não tem mais condições para continuar morando. Depois que a Vale entrou na região acabou com tudo e a cada dia fica pior. Não temos mais água de qualidade, sofro com esse barulho de sirene e fuligem da produção mineral. Toda vez que a gente procura a Vale tem sempre uma desculpa, diálogo não existe”. O relato é do agricultor Otaviano José de Araújo, de 61 anos, morador da comunidade de Campos Altos, no município de Ourilândia do Norte, no Sul do Pará, onde a mineradora Vale explora níquel através do projeto Onça Puma desde 2007.

Otaviano, que também é presidente da Associação de Moradores de Campos Altos, foi um dos pequenos agricultores ouvidos, no final do ano passado, pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) que investiga irregularidades cometidas pela Vale na exploração de minérios em solo paraense. O relatório final da CPI, instaurada em maio do ano passado, deve ser concluído em junho.

 Otáviano Araújo, presidente da Associação de Moradores de Ourilândia do Norte (Crédito: Ozeas Santos/Alepa)

Segundo os moradores de Campos Altos, desde que a mineradora se instalou na região a comunidade passou a sofrer com poluição sonora, graves problemas de saúde, contaminação do solo, da água e do ar, o que torna inviável a permanência no local e a prática das atividades agrícolas. Das 286 famílias que viviam no local, apenas 62 continuam tentando sobreviver na área. 

“O problema de insegurança e a falta de apoio nos deixa sem saída a não ser ir embora daqui. Vender está difícil porque ninguém quer morar aqui.  Estou cansada de lutar e não ver solução, então prefiro deixar, vou sentir muito, mas do jeito que está não dá mais. Mas quero indenização para sair e com preço justo”, relatou a agricultora Cássia Camargo à CPI. 

A poluição sonora não afeta somente as pessoas, os animais também são prejudicados. “Com as sirenes, o gado fica assustado, sai disparado toda vez que ouve o som, e muitas vezes fica machucado porque acaba caindo”, contou o agricultor Lindon Jonson Costa Neves. Segundo ele, a família também está adoecendo. “Outra questão é a saúde, minha filha está com problemas respiratórios e com presença de níquel no sangue, comprovados por exames médicos. Já teve pessoas que cometeram suicídio por causa dessa situação e os casos de depressão são constantes”, desabafou.    

“Onde a Vale entrou, as famílias tiveram que sair pela inviabilidade e falta de estrutura e apoio por parte da mineradora e da prefeitura. Onde tinha moradores, hoje é só mata e isso atraiu muitas onças pintadas para a região, o que causa grande insegurança de moradia”, relatou outro agricultor. 

Além dos que permaneceram na área, moradores que optaram pode deixar a região e receber uma indenização da Vale também enfrentam problema. Segundo eles, a empresa não cumpriu com a promessa de conseguir outras áreas e os processos seguem na justiça.

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